quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Manter as distâncias

Eis uma atitude cuja análise sociológica se reveste de um alcance universal. Com efeito - e insistimos no carácter de regra que reveste a estrutura deste género de unidades - desde que um grupo, uma casta, uma camada social consegue ocupar uma posição elitária estável e viver separada das massas, embora sujeita a pressões vindas de baixo e por vezes também de cima, o simples facto de fazer parte dela tem para os seus membros e de uma forma mais ou menos total o carácter de um valor absolutamente autónomo, de um fim em si. «Manter as distâncias» é, pois, o motivo decisivo do seu comportamento e a forma onde este se molda. Para os membros de uma elite, o valor da sua existência não precisa de outra justificação, sobretudo não precisa de uma justificação do tipo utilitário. Os problemas que esta existência lhe levanta não podem nunca ser os de lhe encontrar razões de ser mais profundas e mais terra-a-terra. Quando estudamos a formação de elites, mesmo isoladas, deparamos sempre com o mesmo fenómeno.

Norbert Elias, A sociedade de corte, p. 77.

Sem comentários:

Enviar um comentário